LIVRO CÓSMICO
OBSESSÃO
Obsessão é uma nuvem que não dorme, uma flor que insiste em florescer a mesma paixão. É o eco de um pensamento que se recusa a morrer, um sol que brilha apenas para um planeta, mesmo que esse planeta já tenha partido.
Obsessão é luz que se acende, e reluta em apagar. Uma chama doentia que nos lança pelas constelações, apenas para nos fazer voltar, sempre ao mesmo ponto de partida, como se o universo inteiro conspirasse para nos manter presos a um único desejo.
Obsessão é um tempo febril que chora por uma estrela que jamais lhe pertenceu, um lamento irracional, compulsivo, que ecoa pelas nebulosas da mente, sempre em busca de um brilho que não reconhece.
Obsessão, é uma maré viva de ignorância de defeitos, uma correnteza que arrasta a razão para o fundo do abismo, onde o discernimento se afoga em delírios celestiais.
É espelho que só reflete o que se quer ver, distorcendo a imagem da realidade, até que tudo se torne miragem.
Obsessão é o ciclo vicioso de querer o que não se tem, de amar o que não existe mais, ou talvez nunca tenha existido. É galáxia sem grades, liberdade que se disfarça de cela. É a insistência de colher frutos de uma árvore que já esta seca.
Obsessão é o mergulho consciente nas águas da memória, onde cada maré devolve o mesmo olhar, o mesmo gesto, o mesmo sussurro que insiste em permanecer.
Obsessão não é amor, é o eco do amor que se perdeu no labirinto da mente.
Há paixões que nunca morrem, e a obsessão é a carta marcada do baralho que insiste em aparecer mesmo que o jogo já tenha terminado.
A obsessão é a eternidade de um segundo que jamais existiu. É tempo perdido dentro do próprio tempo, é o infinito girando em torno de um vazio, uma órbita sem destino, um desejo que continua a arder mesmo depois do fim.
E quando o viajante desperta, já não há retorno.
Assim, obsessão é constelação sem céu, desejo sem repouso, memória sem paz, um universo interno que colapsa sobre si mesmo.
Obsessão - Margarida Pires
Aya, si con hermosas anáforas extrapolas en lo poético el sentido de la obsesión. Un abrazo. Carlos
ResponderEliminar